quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Costurar o sono

Enquanto costuras meu sono busco uma dose de canto. Quem sabe assim eu ouse criar um conto. Quem sabe assim eu lhe conto. Que nome tem esse encanto.  Já eram quase 3h da madrugada quando a insônia me costurava o sono. Pela janela me pus a olhar a rua. Avistei o silêncio do vazio daquela madrugada fria e se pôs a dedilhar. Me dirigi até a geladeira, abri a porta e por instantes sonhei acordada, esquecendo o que procurava ali. Retornei à janela e me pus a olhar a garoa que começava a cair. Pensei em escrever um conto que contasse as cores e as dores da mulher que havia me roubado o sono. Estou escrevendo.

Amar sem interrogações

As malas já estavam prontas. Deixe-as em cima da cama e me dirigi até a janela. Acendi um cigarro.O sol partiria daqui a poucas horas. Desejei ir embora antes dele. Ela se pôs a me observar enquanto as lágrimas lhe escapavam dos amendoados olhos negros. "Me leva contigo". Fitei-a em silêncio enquanto meu coração batia aceleradamente.  Minha vida já estava marcada por aquela mulher. Mas eu queria amá-la sem pedir nada em troca. Escolhi um tempo comigo. Mas não prometi voltar, apenas avisei que partiria. Se ficasse o nosso amor seria corroído por minhas interrogações. Apaguei o cigarro sob a janela. Ela continuava a chorar. Não compreendia minha partida. Quem me compreenderia afinal?Em silêncio peguei as malas e me dirigi ao meu Karmann.  Ela correu até mim e em meio às lágrimas balbuciou que eu não precisava mais retornar. Arranquei o carro e parti sem saber para onde estava indo. O sol se punha em meu caminho. Eu a amava, mas precisava deixá-la voar sem mim. Eu também precisava voar sem mim para quem sabe me encontrar. Não é fácil dizer a Deus. Parei no primeiro bar que encontrei. "O que deseja?" Uma cerveja". "Algo mais?". "Amar, amar sem interrogações". Silêncio.